Que a minha intensidade não me impeça de respirar vezenquando,
pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já
nem se cabe.
Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao
menos, por alguns momentos, absorvê-las com tranqüilidade: para
que eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaus-
tão, pois sinto falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações,
descontraída.
Que a felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar.
Que haja alguma suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e
que eu não me emocione exageradamente com esta delicadeza.
Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por com-
pleto.
Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por
lucidez extrema.
E que quando eu escrever um texto, assim, despido de qualquer re-
visão emocional, dotado apenas da intuição que me foi dada, que
encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”.
Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham
silêncios e desgovernam melodias.
Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais.
Que eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice inter-
na inquieta.
Que eu possa saber dessa música apenas que ela se comunica
com algo em mim, nada mais.
Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta.
Que eu possa sentir tristeza sem que ela se aposse de toda a mi-
nha alegria.
E que, se um dia eu for abandonada pelo amor, não deixe que
esse abandono seja para sempre uma companhia.
__________ Marla de Queiroz
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