Trechos do livro que estou lendo Noites Brancas de Fiodor Dostoievski
Numa iluminada noite de primavera, à beira do rio
Fontanka, um jovem sonhador se depara com uma linda mulher, que chora.
São Petersburgo está mergulhada em mais uma de suas noites brancas,
fenômeno que as faz parecerem tão claras quanto os dias e que confere à
cidade a atmosfera onírica ideal para o encontro entre essas duas almas
perdidas. Em apenas quatro noites, o tímido rapaz e a misteriosa
Nástienhka passam a se conhecer como velhos amigos, mas algo vem
atrapalhar o desenrolar romântico deste fugaz encontro. Publicada em
1848, esta história faz parte do ciclo de obras que Dostoiévski
(1821-1881) criou após amargar uma forte desilusão amorosa e é a última
escrita antes da prisão e do período de exílio na Sibéria.
Cada capítulo é um dia de vida desses personagens durante o fenômeno.

Esse é um trecho do livro que estou lendo Noites Brancas de Fiodor Dostoievski ..pagina 33
(...)
"O quarto está imerso na obscuridade; a sua alma está vazia e triste;
Todo um reino de quimeras se desmoronou em seu redor, se desmoronou sem
deixar rastro, sem ruído nem tumulto, passando como um sonho, e ela nem
sequer se recordou de ter acalentado essas quimeras. Porém, uma espécie
de obscura sensação que magoou levemente o seu peito, uma espécie de
novo desejo seduz, estimula e irrita a sua imaginação. Novo sonho: Nova
felicidade! Volta a beber o veneno delicioso do sonho!... Que importa a
vida real? Nós vivemos uma vida tão ociosa, tão parada, tão desprezível,
estamos tão descontentes da nossa sorte, tão enfastiados da nossa
existência! E, na verdade, verifique como, à primeira vista, tudo se
apresenta, na nossa vida, tão amargo como hostil... 'Pobres Criaturas!'
Nada de interessante existe no seu pensamento. No entanto, ouvimos à
nossa volta a multidão bramir e rodopiar no turbilhão da vida, ouvimos e
vemos viver os homens, viver bem acordados, vemos que a vida não lhes é
interdita, que a vida não lhes evaporará como um sonho, uma visão, que a
vida deles é eventualmente renovada, eternamente jovem, sem que uma
hora se assemelhe à seguinte, enquanto a tímida fantasia é sombria e
monótona até a banalidade, escrava da sombra, da idéia, escrava da
primeira nuvem que de súbito obscurecerá o sol e oprimirá de angústia o
verdadeiro coração, tão cioso do seu Sol ... Ora, na angústia não pode
existir fantasia." (...)
“Pois quando estamos infelizes sentimos mais
fortemente a infelicidade dos outros; o sentimento não se esfacela, mas
sim concentra-se…”
Noites Brancas Fiodor Dostoievski
- - - -
” - Pois creia-me, eu não tenho história nenhuma! Porque tenho vivido
para mim próprio, como costuma dizer-me, só, completamente só, sempre
só, completamente só. Sabe o que significa a palavra “só”? Pois é isso
mesmo…”
Noites Brancas, Dostoiévski. Página 30
“Que a tua vida seja diáfana e agradável como o teu doce
sorriso, e bendita sejas pelo instante de felicidade que tu deste a
outro coração solitário e agradecido!
Meu deus! Um momento de felicidade! Sim! Não será isso o bastante para preencher uma vida?”
Noites Brancas Dostoiévski
♥ ♥ ♥
E me pergunto: onde é que estão os seus sonhos? E balançando a
cabeça, digo: como os anos voam depressa! E novamente me pergunto: mas o
que você fez dos seus anos? Onde sepultou a sua melhor época? Você
viveu ou não? Veja, digo a mim mesmo, veja como o mundo está ficando
frio. Ainda passarão anos, e atrás deles virá a solidão sombria, virá a
velhice trêmula com uma bengala, e atrás dela a tristeza e a melancolia.
O seu mundo fantástico empalidecerá, os seus sonhos ficarão
paralisados, sem vida e cairão como as folhas amarelas das árvores…
Noites Brancas Dostoiévski