No livro Cem Anos de Solidão esse personagem chama muito atenção.. Remedios, a bela, é uma garota que
cresceu sem malícias ou pensamentos complexos. Queria apenas viver,
comer, dormir. Não entendia por que as pessoas complicavam a vida.
Achava natural andar nua e ria na cara dos homens que a pediam em
casamento. Certo dia, sobe aos céus de corpo e alma.
...Remédios, a bela, era na verdade o ser mais lúcido que havia conhecido
na vida, e que o demonstrava a cada momento com a sua assombrosa
habilidade para zombar de todos, abandonaram-na ao deus-dará. Remedios, a
bela, ficou vagando pelo deserto da solidão, sem cruzes nas costas,
amadurecendo nos seus sonos sem pesadelos, nos seus banhos
intermináveis, nas suas refeições sem horários, nos seus profundos e
prolongados silêncios sem lembranças, até uma tarde de março em que
Fernanda quis dobrar os seus lençóis de linho no jardim e pediu ajuda às
mulheres da casa. Mal haviam começado, quando Amaranta advertiu que
Remedios, a bela, chegava a estar transparente de tão intensamente
pálida.
— Você está se sentindo mal? — perguntou a ela.
Remedios, a bela, que segurava o lençol pelo outro extremo, teve um sorriso de piedade.
— Pelo contrário — disse — nunca me senti tão bem.
Acabava de dizer isso quando Fernanda sentiu que um delicado vento de luz lhe arrancava os lençóis das mãos e os estendia em toda a sua amplitude. Amaranta sentiu um tremor misterioso nas rendas das suas anáguas e tratou de se agarrar no lençol para não cair, no momento em que Remedios, a bela, começava a ascender. Úrsula, já quase cega, foi a única que teve serenidade para identificar a natureza daquele vento irremediável e deixou os lençóis à mercê da luz, olhando para Remedios, a bela, que lhe dizia adeus com a mão, entre o deslumbrante bater de asas dos lençóis que subiam com ela, que abandonavam com ela o ar dos escaravelhos e das dálias e passavam com ela através do ar onde as quatro da tarde terminavam, e se perderam com ela para sempre nos altos ares onde nem os mais altos pássaros da memória a podiam alcançar..
— Você está se sentindo mal? — perguntou a ela.
Remedios, a bela, que segurava o lençol pelo outro extremo, teve um sorriso de piedade.
— Pelo contrário — disse — nunca me senti tão bem.
Acabava de dizer isso quando Fernanda sentiu que um delicado vento de luz lhe arrancava os lençóis das mãos e os estendia em toda a sua amplitude. Amaranta sentiu um tremor misterioso nas rendas das suas anáguas e tratou de se agarrar no lençol para não cair, no momento em que Remedios, a bela, começava a ascender. Úrsula, já quase cega, foi a única que teve serenidade para identificar a natureza daquele vento irremediável e deixou os lençóis à mercê da luz, olhando para Remedios, a bela, que lhe dizia adeus com a mão, entre o deslumbrante bater de asas dos lençóis que subiam com ela, que abandonavam com ela o ar dos escaravelhos e das dálias e passavam com ela através do ar onde as quatro da tarde terminavam, e se perderam com ela para sempre nos altos ares onde nem os mais altos pássaros da memória a podiam alcançar..
Trecho de "Cem anos de Solidão" - Gabriel García Márquez
Muito bom
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